Dia 03 eu chego aí.
E então eu posso voltar a existir.
28 de setembro de 2014
24 de setembro de 2014
alta
Você me deu alta de você, me pediu que nunca mais voltasse ao seu consultório e volta e meia me procura, como um médico cobrando hora-extra de um paciente que não tem mais doença nenhuma.
13 de setembro de 2014
Belém
A cidade nasce e dorme.
Assim como eu.
Talvez nos mesmos horários que eu.
Eu finjo que o dia passa. E eu tento passar pelo dia, tento atravessar e fazer parte das horas que nascem e morrem enquanto o sol queima na cabeça de todo mundo que anda nesse asfalto que, por algum milagre, não derrete.
Menos importante do que o asfalto que não derrete é a falta de dia que tenho dentro de mim. Como se eu não vivesse neste tempo de relógio: calculado em segundos, minutos e horas. É o meu frequencímetro que mostra se o dia está passando mais rápido ou mais devagar. As vozes ao meu redor, com as quais raramente interajo, não ultrapassam a fina camada entre o meu mundo e tudo ao redor de mim. Talvez eu não deixe. Talvez elas não queiram. Talvez seja a mistura destas incompatibilidades - talvez as nossas vozes nunca sejam ouvidas e nunca ultrapassem a barreira dos mundos que nos separam de todas as pessoas ao nosso redor. Quando estou aqui, o mundo parece mais vazio, porque eu sou um pouco (mais) vazia aqui. Porque não há outras vozes que eu deixo entrar no meu mundo. Porque o meu mundo aqui me basta? Porque me bastaria em qualquer lugar? Talvez. É quase uma punição perceber a possibilidade de viver em solitude (quase) plena. Quase me sinto mal pela sociedade que suplica por companheiros - se às vezes também não os desejasse. Sociedade que suplica por vozes a serem ouvidas - quaisquer que sejam, trazendo a mais banal mensagem. Arrogância minha achar que não sou banal. Inferioridade minha achar que não tenho nada a acrescentar na vida destas dezenas de pessoas com as quais não me identifico e que enxergam em mim alguém que não se encaixa aqui. Alienação minha achar que somos assim tão diferentes.
A cidade nasce e dorme.
Queimando e quase ilhada.
Assim como eu.
Assim como eu.
Talvez nos mesmos horários que eu.
Eu finjo que o dia passa. E eu tento passar pelo dia, tento atravessar e fazer parte das horas que nascem e morrem enquanto o sol queima na cabeça de todo mundo que anda nesse asfalto que, por algum milagre, não derrete.
Menos importante do que o asfalto que não derrete é a falta de dia que tenho dentro de mim. Como se eu não vivesse neste tempo de relógio: calculado em segundos, minutos e horas. É o meu frequencímetro que mostra se o dia está passando mais rápido ou mais devagar. As vozes ao meu redor, com as quais raramente interajo, não ultrapassam a fina camada entre o meu mundo e tudo ao redor de mim. Talvez eu não deixe. Talvez elas não queiram. Talvez seja a mistura destas incompatibilidades - talvez as nossas vozes nunca sejam ouvidas e nunca ultrapassem a barreira dos mundos que nos separam de todas as pessoas ao nosso redor. Quando estou aqui, o mundo parece mais vazio, porque eu sou um pouco (mais) vazia aqui. Porque não há outras vozes que eu deixo entrar no meu mundo. Porque o meu mundo aqui me basta? Porque me bastaria em qualquer lugar? Talvez. É quase uma punição perceber a possibilidade de viver em solitude (quase) plena. Quase me sinto mal pela sociedade que suplica por companheiros - se às vezes também não os desejasse. Sociedade que suplica por vozes a serem ouvidas - quaisquer que sejam, trazendo a mais banal mensagem. Arrogância minha achar que não sou banal. Inferioridade minha achar que não tenho nada a acrescentar na vida destas dezenas de pessoas com as quais não me identifico e que enxergam em mim alguém que não se encaixa aqui. Alienação minha achar que somos assim tão diferentes.
A cidade nasce e dorme.
Queimando e quase ilhada.
Assim como eu.
1 de agosto de 2014
O poeta sem pé
Cabeça de poeta é assim, não tem
linearidade, não tem começo, meio e fim. A história é meio inventada e meio
real, os personagens possuem nuances que não se encaixariam numa pessoa só,
porque aos olhos do poeta as personalidades se misturam e se completam, sua
imaginação cria o caráter retirando um tanto de verossimilhança. Por isso que,
quando questionado sobre o que lhe inspira, diz que cada passo da humanidade
escreve uma linha de pensamento na sua fértil imaginação, e que, passados no
filtro colorido das suas mirabolantes histórias pré-inventadas, irão formar
poesias, contos, livros e canções que não terão nenhuma base concreta, nenhum
acontecimento verdadeiro, mas ao mesmo tempo contarão a história de tantos que
lerem suas mais absurdas palavras escritas, sem começo, meio ou fim. Sem pé,
nem cabeça.
25 de junho de 2014
de manhã
Foi quando ele acordou e começou a cantarolar aquela música do Noel Rosa que ela percebeu:
ele era a poesia que ela finalmente conseguiria escrever.
ele era a poesia que ela finalmente conseguiria escrever.
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