15 de novembro de 2016

é melhor assim

e aquilo que transbordar, você guarda naquela sacola no fundo do seu armário. Talvez um dia ele volte pra buscar.

3 de novembro de 2016

Quanto tempo

Quanto tempo até as lágrimas não cairem no travesseiro na noite calada?
Quanto tempo até se acostumar ao silêncio da alma?
Quantas são as luas necessárias para tudo se assentar do lado de dentro?
Dentro dela o tempo não passa.
As lagrimas ainda existem. o colo ainda pede.
Em sonho, o timbre daquela voz sonâmbula ainda lhe fala, cantando:
Debaixo dos seus caracóis, eu te amo.  

28 de outubro de 2016

Eu não sei o que fazer com a dor dos outros, ele disse.
E o que você faz com a sua própria dor?


Eu não sinto.

20 de outubro de 2016

E o médico pediu que ela falasse, apenas se viesse lá do fundo: "eu desisto".
Mas ela nunca conseguiu.
Anos depois viria a entender a importância de ter desistido.
Morreu sem conseguir engolir nem um gole d'água, tamanho era o espaço guardado dentro dela para tenta espera.

17 de outubro de 2016

Adeus

Ele nunca mais voltou.
Acordou um dia mais feliz do que nos outros
e na hora de decidir a camisa, de repente os cabides sem cor pediam um verde.
Esperança.
fez compras. aos poucos, coloriu a vida.
Ele disse que precisava se achar.
Queria respirar ares mais limpos e encontrar almas mais antigas.
Queria enxergar as cores que ela enxergou, nele e no mundo todo.
Alugou o apartamento, vendeu o carro. Depois, comprou a passagem com destino certo: ele.
No canto da mala, no fundo da alma, empacotou a carta que ela escreveu, porque é possível levar amor em carta.
Pegou a segunda à esquerda, saindo do seu prédio, do outro lado do mundo, ou aqui no centro de São Paulo. se encontrou finalmente.
E nunca mais voltou.

10 de outubro de 2016

Para onde?

Para onde vai o amor que nunca mais será sentido?
Ele desaparece na fumaça do cigarro?
Evapora no alcool que engolimos?
Escorre no sangue de um acidente?
Onde fica o volume do amor que esta dentro da gente depois que não há mais onde colocar tanto amor?
Se beber muita água, a gente se desintoxica do amor?
Se correr muito, o amor sai junto com o suor?
Se ficar parado e cortar bem fundo, a gente morre de amor?
Se doer muito a gente morre de dor de amor e finge que está vivo enquanto outras palavras que não são amor saem da nossa boca?
Como expelir o amor que está aqui dentro ocupando um espaço que não lhe pertence mais?
Da pra mandar amor por carta?
Como recicla amor? Ou é tão orgânico que jogamos no lixo comum?

24 de setembro de 2016

No futuro

Você vai sugar o ar em algum lugar desse mundo enquanto fecha os olhos e eles, sem querer, se enchem de lágrimas. O ar gelado normalmente entra sem fazer diferença nenhuma dentro da geleira que você se tornou. Mas aquele suspiro profundo te esquentou, porque ela estava ali. Naquele segundo, você desejou que estivessem respirando o mesmo ar. Vai dar mais alguns passos pra frente, desejando voltar todos os milhares de quilometros que te levaram pra tão longe. No mesmo instante, vai perceber que mesmo se estivessem a apenas alguns quilometros, ainda estariam tão longe um do outro.
Sua vida vai se transformar nessa busca por alguém que sempre esteve dentro de você e o medo te impediu de ficar parado ali, respirando o ar quente daquele amor que você nunca aceitou.